No dia 17 de maio de 2014, Portugal abandonou o programa de resgate solicitado à troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional). Após três anos de recessão e de uma consolidação orçamental fundamentada num programa de austeridade, o legado europeu de igualdade, direitos humanos e solidariedade foi descartado e os problemas agravaram-se. Um relatório das Nações Unidas confirma que a ajuda externa teve um impacto adverso nos direitos sociais, económicos e culturais, e alerta que o país encontra-se numa trajectória de subdesenvolvimento: Aumentou o risco de exclusão social, há mais crianças pobres e quem é pobre está mais longe de deixar de o ser. A austeridade veio para ficar. Portugal, de Janeiro a Agosto de 2014. BSC

Por decisão do Bispo do Porto, Albino Reis foi empossado a 9 de Novembro como pároco de Canelas, mas um numeroso grupo de populares sempre contestou a substituição do Padre Roberto, seu antecessor. Em seu apoio foi formado o movimento “A comunidade reage!” e grande parte dos paroquianos deixou de participar nas missas dominicais. Concentram-se agora à porta da igreja com bandeiras negras e entoando slogans como “Padre é só um, Roberto e mais nenhum” ou “A igreja foi ao tribunal, só saem com escolta policial”. Um cenário de contestação e desafio ao novo pároco, e que se repete todos os domingos. Canelas, Vila Nova de Gaia, Novembro de 2014. AG

Uma combinação de longas e poderosas pernas, peito profundo, espinha flexível e porte atlético, permite aos galgos atingir velocidades de corrida de mais de 65 quilómetros por hora. Em Portugal, as corridas começaram há mais de meio século, sendo as mais polémicas as Largadas de Lebres, que são perseguidas em campo aberto pelos galgos. Muitas das vezes até à morte. Entre 2007 e 2011, estas competições estiveram suspensas, mas o Tribunal da Relação do Porto acabou por decidir que as corridas desportivas de galgos com lebres vivas não infringem a lei da caça. Das duas que se realizaram em 2014, uma teve lugar em Parada, no concelho de Vila do Conde. Norte de Portugal, 2014. RDS

Depois de anos a estudar, ele procura um trabalho, uma ocupação temporária. Reduzido a estatísticas, a um currículum vitae e derrotado pelo sentimento permanente de incapacidade, fecha-se agora no quarto a fumar droga ou a beber cerveja em maratonas de PlayStation. O país não o deixa ser adulto, mas também já não sabe ser criança.Agasalhada com um xaile, a avó toma conta das tarefas domésticas e mantém a fé inabalável num futuro melhor, enquanto ambos partilham o mesmo espaço degradado pela erosão dos anos. É este o retrato de um país de austeridade, pobreza e em crescendo e desânimo. Das diferentes gerações que se cruzam, vivem e se apoiam enfrentando o drama do desemprego jovem e pensões inferiores ao salário mínimo nacional. Braga, 2013–2014. JMGS

Depois de um verão sem igual, o turismo na cidade do Porto continua em alta e em 2014 bateu todos os recordes. Independentemente da época do ano, o Porto é cada vez mais visto como um destino turístico, como o comprova a escolha como o “Melhor Destino Europeu” em 2012 e 2014 pela “European Consumers Choice”. Um cenário que tem escala mundial, com quase 5 milhões de dormidas registadas em 2014, e que enche de gente de todos os cantos do mundo. Uma “invasão” que, mesmo assim, não torna ainda impossível encontrar a pacatez, o silêncio e a solidão de outros tempos nas ruas da área classificada pela Unesco como Património da Humanidade. Porto, 2014. RDS

Cerca de 500 mil portugueses precisam de ajuda alimentar para combater a fome. Recorrem a Instituições Particulares de Solidariedade Social, ao Banco Alimentar, às carrinhas que distribuem comida aos sem-abrigo pelas ruas do país, ou ainda às cantinas sociais que todos os dias disponibilizam centenas de refeições. E numa altura em que os pedidos de ajuda superam largamente a capacidade de apoio das associações, não são raras as vezes em que a fome e o desespero levam os cidadãos a vasculhar no lixo alheio em busca de algo com que possam enganar o estômago. Porto, Dezembro 2014. RMO

Ao princípio, os cartazes eram mera informação para o fotógrafo. Olhava a amálgama de uns colados aos outros para escolher o concerto ou peça de teatro que não queria perder. Depois, passaram a ser imagens artísticas, que já não podiam ser vistas da mesma forma. Alguém os rasgara. Há um olho que falta, uma boca a gritar, um pedaço da parede que já lá estava. De repente, o acto impensado cria um novo e fantástico universo. Uma nova realidade que, enquadrada pelo olhar do fotógrafo, parece ganhar uma intencionalidade que talvez nunca tenha existido. Rasgar é aqui, mais do que nunca, dar uma nova vida ao que já existia. Porto, Lisboa, 2012–2014. PP

Ao longo dos últimos anos o circo tem passado do “maior espectáculo do mundo” para uma diversão que vai de terra em terra sem que na maior parte das vezes os espectadores se apercebam que os artistas correm riscos de vida reais a cada vez que vão ao palco. Desde o início de 2014, o fotógrafo espreitou a vida de 25 circos, num total de 80 visitas efectuadas de norte a sul, incluindo a Madeira, para ver de perto o esforço destes homens e mulheres. Alguns números continuam a deixar boquiabertos os espectadores, o que faz com que os donos do circo continuem a afirmar que este continua a ser o maior espectáculo do mundo. Portugal – diferentes cidades e vilas, 2014. FS

O mundo consome um milhão a cada minuto, mas o sempre útil saco de plástico tornou-se numa enorme fonte de poluição. Das praias ao fundo do mar, do Ártico e até ao tecto do mundo, no Monte Everest. Como não é biodegradável, o plástico pode durar centenas de anos no meio-ambiente. O problema é ainda maior em países subdesenvolvidos, onde faltam as infra-estruturas para lidar com este material e a população não está acostumada à recolha.Plastic Trees é uma série produzida para alertar para este problema, focando-se no Altiplano Boliviano, onde milhões de sacos de plástico viajam com o vento até ficarem presos em arbustos, transformando as belas paisagens. Uyuni, BolÍvia, Novembro de 2014. EL

O Ceras – Centro de Estudo e Recuperação de Animais Selvagens, em Castelo Branco, recebe por vezes animais feridos ou envenenados que acabam por morrer ou têm de ser abatidos. Depois das autópsias, as cabeças destes animais são congeladas e utilizadas para que estagiários e voluntários se familiarizem com as espécies locais de forma a conseguirem depois identificar as espécies em vários estados de desenvolvimento. Castelo Branco, 2014. DR

Imaginarium é uma história acerca do mundo interior de crianças cegas ou com deficiências visuais. Perguntou-se-lhes como é que se imaginavam e responderam com notáveis auto-retratos. Mostraram coisas que não eram capazes de ver. Este conceito de imaginação levanta a questão do que significa ser-se cego e a forma de o descobrir pode passar por ir para além do limite do visível e entrar no invisível. As fotografias foram tiradas na Polónia, no centro para crianças cegas em Laski, uma pequena vila perto de Varsóvia. O projecto “Imaginarium” está ainda em desenvolvimento e pretende envolver o maior número possível de pessoas cegas de diferentes países, culturas e idades. Laski, Polónia, 2014. NS

Criada em 2012 nos EUA como um evento para promover a saúde e a felicidade, a Color Run chega já a mais de 30 países e 170 cidades. Em Cascais, no dia 17 de Maio, 14 mil participantes pintaram de cor, alegria e entusiasmo a marginal. Partindo em grupos aproximados de mil pessoas, tudo é permitido: correr, caminhar, rastejar ou até mesmo fazer a prova em cadeira de rodas. Em cada quilómetro do percurso há uma cor lançada contra todos. E como se fosse Carnaval, ninguém leva a mal. Parede, Cascais, Maio de 2014. APS

Polémicas e protestos contra os enormes gastos com a realização do Mundial de Futebol de 2014 não abalam a fé do brasileiro na igualdade gerada pelo futebol. Quando há uma bola, não há idade, género, posição social ou terreno que trave o que já nasceu naqueles pés. Mesmo longe dos estádios e dos holofotes, é a pureza do jogo que alastra por campos de lama, favelas, edifícios em ruínas, ou na praia sobre o olhar do Cristo Redentor. É a fé da divisão das chuteiras, das bolas remendadas que continua a encher o imaginário do mundo quanto à relação visceral dos brasileiros com o futebol. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito do futebol. Amén. Brasil, Março de 2014. DR

“Mente sã em corpo são” é uma máxima que se aplica à experiência de vida de Stanislav Nosov, russo naturalizado português que, com o fim da União Soviética, passou fome, roubou para sobreviver e imigrou para Portugal, onde encontrou no “Street Workout” a tábua de equilíbrio e salvação. Pelo meio, juntou-se ao mundo da droga destruindo a carreira profissional de atletismo. Em Braga, Portugal, reencontrou-se através da prática daquela modalidade de exercício físico, que actualmente lecciona a cidadãos oriundos de todos os países como forma de promover um estilo de vida saudável, activo e livre dos erros que o próprio cometeu no passado. Braga, 2012–2014. GD

Um pouco por todo o Mundo há um navio construído nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo. Das ilhas Faroé aos Estados Unidos, cerca de 220 barcos têm o logotipo da maior empresa de construção de navios portuguesa. Em actividade desde 1944, os estaleiros são uma referência da indústria naval em obras tão diversas como “ferryboats”, navios de cruzeiro e pesca, porta-contentores e rebocadores. Em Janeiro de 2014, o Estado português privatizou a empresa assinando um contrato de concessão com a West Sea, empresa que tem ao seu serviço 130 trabalhadores, na sua grande maioria ex-funcionários dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo. Julho de 2007. APS