«Glória aos que Lutam!
Nesta evocação permitam-me que destaque alguém. Primeiro, os jovens que ao serviço da Pátria ficaram inválidos ou mutilados. Quero afirmar aqui que não só não são esquecidos como, pelo contrário, constantemente estão presentes nas preocupações do Governo.»
in: Razões da Presença no Ultramar
Marcelo Caetano, 1972
Quase todas as histórias irão morrer, é inevitável… mas hoje a Guerra Colonial é uma história que continua a existir, que decorre, que ainda não se encerrou no silêncio do pó dos livros ou no recôndito dos documentos. De quando em vez emergem testemunhos sobre essa época que se quer acreditar passada e arrumada. Mas a verdade é que falar sobre esses tempos ainda dói. A matemática é fácil de se fazer! – Estamos em 2015, portanto os então jovens e adultos de 1961 a 1974 são hoje homens na casa dos 60, 70 anos e cruzam-se connosco no café, nos transportes públicos, na fila do supermercado, na farmácia, por todo o lado e isso não nos é PRESENTE.
Quando parti para o cumprimento da Bolsa Estação Imagem sabia ir remexer numa ferida silenciosa, ainda por sarar. Uma ferida que também é minha (nasci em 1967), uma inquietação que desejo satisfazer, se alguma vez for possível entender a violência de uma guerra que mata pais, filhos, irmãos, amigos, conhecidos, desconhecidos. Uma guerra que tocando a todos parece já não tocar a ninguém, camuflada pelo 25 de Abril, silenciada por uma impressão de liberdade.
Em Mora encontrei o que se pode encontrar por todo o país. Basta um olhar atento, consciente e a fonte abre-se, a narrativa individual jorra, confessa, acusa, condói-se e, sobretudo, manifestando-se, exorciza um mal que transporta, que só é partilhado no recato de um círculo de confiança.
Mais do que uma sentida homenagem a estas gerações pretendo com este trabalho contribuir para inscrever na realidade, no PRESENTE e na primeira pessoa do singular os seus testemunhos.
Vivemos num mundo onde a banalização da imagem leva à indiferença sobre o seu conteúdo, mas para este trabalho senti-me compelido a registar muito para além do meu hábito e, enquanto o fazia, senti-me sempre aquém da sua possibilidade… é que em cada um dos que encontrei observei duas guerras, uma sofrida e que se afasta no tempo e uma outra que persistia por contar.
Hermano Noronha
Fevereiro 2015
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