Atenas é uma cidade condenada que não consegue esconder a miséria. As manifestações violentas tornaram-se frequentes. No centro histórico há fome, pessoas sem-abrigo e muitas seringas no chão. Perto da Praça de Omonia, no coração da cidade, encontra-se o desespero de quem tudo perdeu. Começaram por perder o emprego, perderam a esperança e muitos já perderam a dignidade. Resta-lhes aceitar a caridade da Igreja Ortodoxa grega ou o assistencialismo de um centro municipal que há muito deixou de conseguir responder a todos os pedidos de refeições diárias. Uma questão coloca-se: serão estes os famigerados que viveram acima das suas possibilidades? A resposta é óbvia, num país obrigado a viver desde 2009 com uma receita de sucessivas medidas de austeridade. BSC

Portugal atravessa uma das piores crises sociais da sua mais recente história. O desemprego atinge níveis nunca antes vistos, o comércio fecha, os serviços reduzem-se, a ajuda social começa cada vez mais a fazer parte do quotidiano de muitas famílias, a população envelhece, a geração mais nova, a mais qualificada de sempre, sai do país por necessidade e sem vontade de voltar, por não acreditar ou por não se identificar com o Portugal de hoje. Uma das principais diferenças entre Portugal e os outros países em grave situação económica, é a vergonha com que se vive a crise. A nossa é uma crise de vergonha, dentro de portas, e Lisboa é uma capital fria, parada no tempo, repleta de lojas vazias, sombras, reflexos e gente cabisbaixa. PN

Preto de 400 inmigrantes subsaharianos sobrevivir nas ladeiras do monte Gurugú, en Marrocos, á espera dunha oportunidade de saltar a uns que os separa Melilla, España, e do seu soño de ser empregado en Europa. Moitos deles, entre os que hai menores, denuncian a violencia da policía e do exército marroquí. PA

Quando não está a entrar porta adentro sem convite, é pela televisão que a crise económica mais grave da democracia portuguesa invade as casas dos portugueses. Entre as notícias do dia-a-dia, as grandes reportagens e as análises de múltiplos comentadores, os blocos noticiosos são dominados por ela. Na televisão como nos jornais, assumem-se cenários tabu apenas há dois anos, como a saída da Grécia do euro ou o desmembramento da própria zona que utiliza a moeda única. Chegam palavras novas como “eurobonds” ou “spreads”. E chegam até anúncios publicitários que mais não são do que reflexos da situação actual. Sempre a cores. APS

Em 1975, no pico da Guerra Fria, seis países da América Latina (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Uruguai e Paraguai), na altura sob ditaduras militares de direita, criaram a Operação Condor. Foi uma aliança militar secreta com o objectivo de eliminar os adversários políticos recorrendo a recursos comuns, trocas de informação, prisioneiros e técnicas de tortura. O plano, que foi realizado ao longo de mais de três anos, resultou em “execuções extrajudiciais” de pelo menos 60 mil pessoas, jovens na sua maioria de esquerda inspirados pela revolução cubana. O número de vítimas poderá ser ainda maior, não sendo possível confirmá-lo tanto pelo segredo em que toda a repressão aconteceu, como porque, nalguns casos, houve execuções em massa em que os corpos “desapareceram”. Muitos familiares das vítimas não sabem, ainda, o que aconteceu aos seus entes queridos, e a maioria dos responsáveis pelas suas mortes e desaparecimentos nunca foram levados à justiça. O projecto foi produzido nos seis países envolvidos na Operação Condor, tendo sido fotografados sobreviventes, famílias dos desaparecidos, funerais e julgamentos contra alguns dos responsáveis. JCP

Este trabalho questiona, numa época muito particular, a relação entre habitado e desabitado. Estas construções – que poderiam ser milhares de outras no país – são projectos de vida, abandonadas, escuras, num território desolado, que as aceita como feridas, que estão a apodrecer e a transformar as cidades, esquecendo os pais e mães, os filhos e os idosos que deveriam habitar estes lugares. A sua ausência, em espaços que deviam fervilhar de vida, é o melhor retrato da impotência que milhares de famílias vivem. Nestes edifícios há uma luz que lembra a diferença entre o que é e o que deveria ser e que não é mais do que uma metáfora das construções e das vidas interrompidas. O elemento humano está presente no simulacro, na luz que é vida e que é paradoxalmente o que habita o desabitado. NG

Em Maio de 2011, os ministros das finanças da Zona Euro aprovaram o empréstimo de 78 biliões de euros a Portugal. Depois da Irlanda e na Grécia, Portugal tornou-se no terceiro país a pedir apoio financeiro internacional para superar as dificuldades financeiras.O ano de 2012 trouxe austeridade atrás de austeridade resultando num país mergulhado em desemprego, pobreza e desespero sem fim à vista. PM

Há sempre dois lados para uma mesma história. Na cidade da Amadora, arredores de Lisboa, há a câmara municipal, os moradores de um bairro clandestino e, pelo meio, o fim anunciado de um território com quase 250 barracas ainda por demolir. A incerteza é sempre a mesma, a cada manhã de demolições não anunciadas: a que porta vão bater hoje? Será minha, a casa que vem abaixo? A zona assemelha-se a uma zona de guerra que ainda não acabou. Há casas esventradas, interiores expostos aos olhares de todos, portas derrubadas e entulho por todo o lado. A câmara municipal tem uma missão e não há como voltar atrás: é preciso acabar com o bairro clandestino de Santa Filomena. Desde 1998 até Setembro de 2012, já saíram do bairro 180 famílias. Nem todas tiveram direito a realojamento. APS

António e Elsa vivem com os seus três filhos num monte junto à desactivada e abandonada estação de comboios de Brinches – Serpa. Não conseguem trabalho e vivem do rendimento social de inserção e de pequenos biscates na agricultura. Tiveram que abandonar a sua casa na vila de Serpa porque não tinham meios para pagar a renda. Os familiares e amigos passam com alguma regularidade pelo monte e deixam alimentos, água e brinquedos. AB

Os motoristas de táxi têm um trabalho de alto risco. Em todo o mundo os números anuais de assaltos violentos, acidentes de trânsito e doenças relacionadas com stress e poluição, a que estão sujeitos, são grandes. E na Índia não é diferente.Mas os condutores de táxi e rickshaw indianos parecem imunes a estas tensões e perigos. Durante os dias quentes e húmidos (a temperatura máxima média em Bombaim, durante fevereiro e março, é de 33° C), eles aproveitam o tempo livre para descansar, para fugir do trânsito caótico e intenso da cidade. Dormem, em qualquer lugar e posição possível. PE

Em 2012 Mónica Calle decidiu revisitar A Virgem Doida, um texto poético de Arthur Rimbaud sobre um amor distante e obsessivo. Não é a primeira vez que Mónica pega neste texto e faz um espectáculo, é uma revisita do mesmo exercício que foi feito há vinte anos, uma repetição que não se repete porque este já não é o mesmo corpo, já não são as mesmas emoções mas continua a ser a mesma pessoa, a mesma actriz. Numa rua estreita do Cais do Sodré, vinte anos depois a actriz questiona-se: porque estou eu a fazer isto? A esta questão interpõem-se muitas outras: como está agora o meu corpo? quantas memórias, quantas paixões, filhos, lesões estão presentes e que consequências terão no espectáculo? Para Mónica não existe uma personagem, existe um corpo e desse corpo saem palavras, gestos, esse é o trabalho e todo ele vai ao encontro da verdade. No teatro de Mónica não há lugar para a ilusão, para o artifício. Este espectáculo é um confronto entre o antes e o agora, com o trabalho e consigo mesma, com a poesia e com a liberdade.
Só faz sentido regressar a isto se me sentir, outra vez, livre.
Mónica Calle in Público 2012. BS

Tem como missão a criação de circo contemporâneo através do diálogo entre diferentes disciplinas. Habita o espaço Fábrica da Rua da Alegria, gentilmente cedido pela ESMAE. Os seus trabalhos exploram temáticas sociais, políticas, e filosóficas da sociedade actual. Desde 2009 o seu trabalho busca novas formas de fazer e apresentar circo, procurando elevar o virtuosismo clássico a uma forma de comunicação por excelência. Aduela nasce do convite da produtora Ideias Peregrinas para a concretização do espectáculo de estreia de “Spera Mundi”. Este projecto, encomendado por Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura, foi desenvolvido para fazer a ligação entre as duas capitais europeias 2012 – Guimarães e Maribor, na Eslovénia. PP

Um dos maiores incêndios da ilha da Madeira aconteceu em Julho de 2012, onde arderam mais de cinco mil hectares, sendo que mais de metade diz respeito a espaço agrícola e urbano.Os incêndios na Madeira danificaram 40 casas habitadas, 15 das quais ficaram completamente destruídas onde viviam cerca de 120 pessoas que ficaram desalojadas. Estima-se que por volta de 70 carros ficaram totalmente destruídos sem recuperação. Observamos nesta reportagem que a Sra. Maria José, Sra. Aldora Gouveia, Sr. João Correia, Sra. Maria da Luz e Sr. Emanuel Silva, viram as suas casas a serem destruídas pelas chamas. Marcelino Ferreira proprietário de uma marcenaria que ficou totalmente em cinzas, contabiliza estragos na ordem dos 500 mil euros. OP

Estas fotografías están realizadas en pequenos pobos de dous países veciños, Senegal e Guinea Bissau. Son imaxes que mostran convivencia das persoas co lixo. A falta de control do lixo fai que a poboación utilice vertedoiros moi mal situados, provocando moitas enfermidades que afectan á poboación, sobre a todo aos nenos e persoas enfermas. Moitas persoas acoden diariamente a estes vertedoiros para buscar entre o lixo obxectos que despois reciclan, venden ou sinxelamente consumen. A auga potable é unha das carencias principais que cada día afecta a máis xente. Actualmente a auga que consumen é unha das causas principais da alta propagación de enfermidades. GT

El último verán arderon en España máis de 165 mil hectáreas de bosque. É convirtiuse no peor ano de moitos en termos de extinción de incendios. Estes datos demostran que temos que executar políticas axeitadas para a boa xestión do patrimonio natural, e minimizar os efectos do lume nos vindeiros anos. PA

Pode ser um meu conhecido, um vizinho, um amigo. Foram muitos colegas de trabalho. Posso vir a ser eu. Pode vir a ser a minha filha, o meu pai, a minha família. São muitos. muitas famílias. Homens e mulheres. Jovens e menos jovens. Muitas pessoas. Demasiados. Imensos. Para lá de números ou estatísticas, é de pessoas que falamos quando o assunto é o desemprego. Este projecto começou no dia 1 de Maio de 2012, e com a duração de 365 dias tem o objectivo de mostrar 365 rostos. Retratados num blog de um jornal. Sem côres. Sem filtros. Sem artificialismos. Com média angular usada em abertura máxima. Olhos nos olhos. Com dignidade. Uma pessoa por dia. Todos os dias. Estas são algumas das caras reais do esemprego em Portugal. (Na UE, há oficialmente 26.338 milhões de pessoas desempregadas. No espaço de um ano passou a haver mais 1,805 milhões de pessoas fora do mercado de trabalho. Depois da Espanha e à Grécia Portugal é o país com a terceira taxa mais alta de desemprego. Até ao fim do ano haverá mais de um milhão de pessoas desempregadas, sem contar com aquelas que estão fora do mercado de trabalho, porque já desistiram de procurar emprego). DR

Estudos indicam que a esperança média de vida aumentou nas últimas décadas. A implementação de tecnologia, agricultura, medicina e saneamento contribuiu para este aumento. Como resultado, uma parte significativa da população está a atingir uma idade que já não permite a sua participação no trabalho e contribuição na produção das actividades do dia-a-dia e sustento próprio. O crescimento da população acima dos 65 anos – idade da reforma – é tanto, que a população idosa poderá constituir metade de toda a população europeia nos próximos vinte anos. Poderá, então, o envelhecimento ser entendido como uma benção inconveniente? Em sociedades afluentes, com as exigências do trabalho de alto desempenho a par do aumento da esperança média de vida, foi posta em prática uma cultura de lares. Lares são parte clubes sociais, dispensários ou hospícios. Esta cultura de deslocação contrasta com valores sociais da tradição de se viver em conjunto e envelhecer na mesma casa, onde membros mais novos da família cuidam dos mais velhos. Culturas assim podem ainda encontrar-se em zonas rurais e nalgumas partes de países africanos. MM

Dia 24 de Agosto realiza-se a famosa romaria a São Bartolomeu do Mar, santo padroeiro da freguesia. A tradição remonta ao século XVI e consiste em dar voltas à Igreja com um pinto (os locais dizem pito) preto ao colo, passar por baixo do andor e depois ir à praia “furar” ondas em número ímpar, ou seja, três, cinco, sete ou nove (Banho Santo). Tudo isto para que as crianças ficassem afastadas de efeitos demoníacos. Toda a população, principalmente as crianças, de São Bartolomeu do Mar em Esposende, no Norte de Portugal, vestem-se de Santo ou Anjo para participar na procissão de São Bartolomeu. Estes retratos foram feitos entre 2007 e 2012. AC

Muitos dos jogadores internacionalmente conhecidos deram os seus primeiros toques numa bola num campo de terra batida e descalços. Jogadores como Didier Drogba ou Samuel Eto’O são bons exemplos disso! Nesta história tento mostrar o prazer que as crianças africanas têm em jogar futebol! quer seja de sandálias ou descalças, no meio da poeira que eles fazem ao jogar entre elas. As fotos foram tiradas na aldeia de Dulombi e Galomaro na Guiné Bissau. São duas aldeias que nos anos 60 foram locais onde os militares portugueses estiveram sediados durante a guerra colonial. Hoje os quartéis e campos estão ao abandono e servem de “campo de futebol” para os jovens praticantes daquelas aldeias. DR